Obras
Nos desenhos de Seo Hélio, os humanos são seres de pequenas proporções perante um ambiente em que a floresta aparece como grande personagem; há também personagens que são seres híbridos de animal e vegetal, ou animais peculiares, como cavalos que sobem em árvores e vacas antropomórficas; seres fabulosos como o Mapinguari e a Mãe-da-Mata, entremeados de fenômenos naturais e telúricos que ultrapassam uma visão realista do mundo.

Figura - 13 Hélio Melo. Mapinguari, 1996. PVA sobre zinco, 200 X 120 cm. Fundação Garibaldi Brasil, Rio Branco-Acre. Nota: Obra recentemente restaurada por Danilo de S'Acre e Darci Sales. Fotografia de Talita de Oliveira (18/07/2016).
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Figura 14 - Hélio Melo. Mãe da Mata, 1996. PVA sobre zinco, 150 X 120 cm. Fundação Garibaldi Brasil, Rio Branco, Acre. Nota: Obra recentemente restaurada por Danilo de S'Acre e Darci Sales. Fotografia de Talita de Oliveira.
audiodescriçãoSeo Hélio explica que a Mãe da Mata castiga o caçador que desobedecer o código mítico de regulação de acesso ao recursos naturais e acrescenta que quando isso acontece o caçador pode voltar para casa porque o cachorro não quer mais nada com a caçada. Neste universo mítico, seres como a Mãe d'água, o Caboclinho, o Mapinguari, dentre outros seres do universo simbólico do homem da floresta funciona como poderoso código de regulação de acesso aos recursos naturais. Assim sendo a lei é internalizada, trata-se de seguir preceitos que foram incutidos através de histórias, lendas e mitos. Esse código de regulação de acesso aos recursos naturais constitui-se na consciência do amazônida, no seu universo simbólico, e o próprio extrativista é regulador de sim mesmo. Na cidade, o artista lamenta a ausência deste código, porém sabe que a educação ambiental é a melhor maneira para proteger os recursos naturais. A questão da ética é colocada como princípio básico da Educação Ambiental vinculada:

Figura 15 - Hélio Melo. Caboquinho da Mata, 1996. PVA sobre zinco, 150 X 120 cm. Fundação Garibaldi Brasil, Rio Branco - Acre. Nota: Obra recentemente restaurada por Danilo de S'Acre e Darci Sales. Fotografia de Talita de Oliveira.
audiodescriçãoSeo Hélio procurou fazer a sua parte nesta tarefa de criar uma cidadania ambiental, quando vivo promovia palestras em escolas, desde a pré escola até a universidades, contando sua experiência e de outros seringueiros na convivência com a floresta, e de práticas sustentáveis oriundas de uma relação responsável com a natureza. Fazia suas palestras também em hospitais e asilos, sempre levando sua música, seus quadros e suas cartilhas para despertar uma reflexão crítica não só no aspecto histórico e político como também social e cultural da questão ambiental.

Figura 16 - Hélio Melo. Matinta Pereira, 1996. PVA sobre zinco, 150 X 120 cm. Fundação Garibaldi Brasil, Rio Branco - Acre. Nota: Obra recentemente restaurada por Danilo de S'Acre e Darci Sales. Fotografia de Talita Oliveira,Rio Branco -AC.
audiodescriçãoEntão Hélio Melo, representante da memória do povo da floresta, é o responsável pela propagação do mito seringueiro. Pelo filtro dos valores comunitários, o personagem seringueiro vem impregnado de ética na efetivação do seu ofício. A repetição do tema seringueiro não se esgota em cada obra, muito pelo contrário se amplia, se configura em realidade distinta do cotidiano, porque se apresenta sintetizado, apresentando, como consequência, questionamentos que podem interferir na realidade mundana.

Figura 17 - Hélio Melo. Curupira, 1996. PVA sobre zinco, 150 X 120 cm. Fundação Garibaldi Brasil, Rio Branco -Acre. Nota: Obra recentemente restaurada por Danilo de S'Acre e Darci Sales. Fotografia de Talita de Oliveira.
audiodescriçãoSeo Hélio que participou da Rio 92 através da exposição no Circo Voador no Rio de Janeiro, reconhecia em suas obras e seus escritos, que os índios são detentores de um conhecimento tradicional que são importantes à conservação e utilização sustentável da diversidade biológica.

Figura 18 - Hélio Melo. Sem título, 1997, nanquim e tinta de extrato de folhas sobre papel cartão ou cartolina, 21x27,5 cm. Coleção Danilo Batista de Sá, Rio Branco - AC - Fotografia de Talita Oliveira.
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Figura 19 - Hélio Melo. Sem título, 1994, nanquim e tinta de extrato de folhas sobre papel cartão ou cartolina, 38x52,5 cm. Coleção Fundação Municipal de Cultura e Esportes Garibaldi Brasil, Rio Branco - AC - Fotografia de Talita Oliveira.
audiodescriçãoSeo Hélio com sua história peculiar, demonstra que, quanto mais circunscrito o repertório do artista, mas chance terá de se tornar universal, de maneira que, ao retratar a floresta, Hélio Melo registra em sua obra o seringueiro, o Acre, a Amazônia, a questão ambiental e a sustentabilidade. Com isso, relaciona dialeticamente, questões locais com processos universais, globais. Abordagem esta, muito valorizada no artigo 4º que estabelece princípios básicos da educação ambiental no parágrafo VII da Lei 9.795/99 (BRASIL, 1999), que prevê a articulação de questões ambientais locais com as regionais e nacionais. Para Seo Hélio a Educação Ambiental está relacionada com os conceitos internalizados de ética. Esta ética é aprendida através de contos e histórias fantásticas, em que seres sobrenaturais castigam quem maltrata a floresta. Na seção “Os Mistérios da Mata” de sua Coletânea Hélio Melo escreveu:
Dizem os caçadores que na mata tem alguém que protege a caça. Enquanto o caçador mata animal para sua sobrevivência, tudo bem, mas tem deles que matam a caça sem necessidade, só com prazer. Por isso é que ás vezes o caçador sai pra caçar e seu cachorro leva uma surra, sem que se saiba quem está açoitando. (MELO, 2000, P.80)